quinta-feira, 7 de junho de 2012

Saudade

Aconchegada pelas suas próprias emoções, a mulher esconde-se do mundo que a rodeia. O que outrora lhe deu alegria, agora não passa de uma memória... uma sombra de uma Vida que já não o é.

Ouve-se apenas o baloiçar de uma cadeira de madeira, frente à lareira que ilumina a casa no meio da frígida noite. Fotos penduradas na parede, artefactos que adornam a mobília aprisionam-na dentro de um momento repetidamente infinito.
A figura da mulher dirige-se ao jardim de flores que cresciam apenas naquele lugar específico da ilha. Porém, nunca vira as flores desabrocharem. Aparentemente abstraída do frio trazido pela escuridão, ela contempla aqueles pequenos e delicados seres vivos, tão belos...
Não existe Tempo naquele lugar perdido. Dias e noites passaram-se enquanto o seu olhar não se desviava nem por um instante das plantas. E num dia fatídico ela notou...

Todas as flores abriram. E no reflexo do vento viu-se a si mesma. Um espectro do que fora em tempos. Agora, uma miragem do passado. Uma ilusão provocada pelos seus sentimentos, que a prendem àquele lugar maldito. Um fantasma, vítima do amor. Destinada a esperar por alguém que nunca voltara...