segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Porto de abrigo

Sentado num rochedo desconfortável, húmido, coberto de musgo, corto as correntes que aprisionam tudo o que faz de mim humano e agarro-o debilmente contra o meu peito por uns instantes, acabando por o entregar ao Universo.
Esboço um sorriso de orelha a orelha enquanto o Sol se deita no horizonte, iluminando a Natureza num tom alaranjado. A minha alma despida voa livremente pelo mundo, tocando ao de leve o céu estrelado. E cá em baixo, vê-se o meu corpo dormente, derrubado por um turbilhão de sensações escondidas num passado esquecido.

Abro os olhos ao sentir o salpicar das gotas salgadas de uma onda que embate ferozmente contra o meu porto de abrigo.
Os meus olhos espelham toda a vivacidade incandescente da minha existência, presa no interior de um labirinto onde tudo se encontra num mesmo plano, alheio de divergências. Onde tudo coexiste num equilíbrio harmoniosamente perfeito.

Acordo, aconchegado pela minha consciência. Sinto cada grão de areia tocar nos meus pés descalços. Tento alcançar o inalcançável e abraço o vento gentilmente.
A água fria conforta-me. A lua cumprimenta-me, lá bem alto no pico do mundo.

Agarro-me à vida com todas as minhas forças. O meu suspiro carrega em si o peso de tudo o que nunca foi dito. A minha insignificante e invisível presença acomoda-se, sente-se aceite e sabe que de certo modo, é aqui que ela pertence.

Entrego-me de corpo e alma a isto.
Porque estou em casa.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ópio

Através dos seus olhos claros, como portas abertas, vê-se o mundo. Um olhar cativador, que nos paralisa a alma.
Preso numa irrealidade inexistente, desenhada tão perfeitamente num horizonte linear onde o inimaginável ganha vida e o perfeccionismo é o protagonista.
Um único toque traça uma sensação única e nessa irrealidade, onde tudo é possível, brota um novo espírito, preso no infinito do mundo.
A força de um sorriso é o suficiente para fazer parar o tempo.
As palavras perdem o seu poder naquele lugar onde o tudo é nada, e o nada é tudo.

A sua pele, tão delicada como seda, aprisiona-me.
Sem uma única troca de palavras, passeamos por um vale de flores, alheios do exterior.

Mas agora, fechamos a porta a sete chaves. Atrás dela, deixamos uma pintura intocável. A nossa realidade.

Aquela irrealidade apenas a nós nos pertence... agora vejo-te num sonho. Num sonho distante, tão suave como uma onda que rebenta lenta e silenciosamente num cais abandonado, repouso eterno do meu ser inquieto, que espera ansiosamente por te ver uma vez mais, do outro lado.

Como dolorosamente bom seria ouvir de novo a sua voz.


domingo, 16 de janeiro de 2011

Uivando à Lua

Vivemos num mundo louco. No meio de toda esta confusão, desenhamos um trilho desfigurado, livre de atalhos e sem um fim à vista.
Cada passo acrescenta um quadrado a esse trilho, uma nova palavra a este livro, tão engenhoso... escrito e adornado o mais cuidadosa e ousadamente possível.

Outros passeiam a meu lado. Lançam-me olhares e eu retribuiu da mesma maneira.
Trocamos e partilhamos encruzilhadas. O número de palavras aumenta, o conto prolonga-se.

Conversas banais, anedotas, desabafos, discussões, lágrimas, frustrações, conhecimentos, amores, desamores, desejos, planos, memórias, amizades, rivalidades, resumem toda uma vida de partilha no seio de um bando de tolos.

Passado, Presente e Futuro. Os seus únicos capítulos, falam de guerra, da nossa verdadeira batalha: viver.

Aprendemos o alfabeto e os números. Tanto conhecimento à nossa disposição... embora não absoluto. Como aprendemos a viver? Sem nenhum género de preparação para a enfrentar de queixo erguido, não admira que alguns falhem. Não admira que hajam medos. Mas há ajuda.

Se somos criadores do nosso próprio Império, baseado em memórias boas e más, porquê ter que esquecer uma parte delas?
As experiências emendam os erros, ajudam-nos a crescer. Assim, deixaremos para trás um livro que valerá a pena ler e reler.


Não te vou esquecer. Obrigado.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Divergências

Sabes quando chegamos a uma parte da vida, na qual não sabemos para onde nos virar? Que caminho seguir? O que acontecerá se escolhermos uma determinada rota?

Por vezes pensa-se: "e uma bússola já dava jeito não? Ou um simples mapa, é pedir muito?"

Mas pronto... perder a nossa orientação é fácil. O difícil é voltarmos a entrar na estrada da qual perdemos a vista.
Sozinhos, por nossa conta... é mais difícil, muitas dúvidas irão surgir e só poderás confiar em ti próprio, procurar as respostas pelas quais tanto anseias dentro de ti.

Mas porquê fazê-lo sozinho, quando alguém nos estende a mão, nos oferece a sua ajuda? É incrivelmente mais fácil carregar esta bagagem quando temos outros a aliviar-nos o peso.

Por vezes nestes momentos, a pressão pode ser a tua maior rival. Não fazer a mínima ideia do que queremos, a única coisa da qual temos a certeza é que precisamos de uma resposta rapidamente.

Agora imagina a situação:
Estás num elevador encravado. Só tu e uma bomba-relógio, prestes a explodir dentro de 5 minutos. Que fio cortar? O tempo continua a correr, as tuas dúvidas e receios acentuam-se. Quando dás por conta, passaram 3 minutos. Que fio cortar?
Um minuto. Segundos... o que fazes?

Percebes?

Mas agora digo-te...
Olha para dentro de ti próprio.
Respira fundo, acalma-te.
Pensa.
Percebe-te.

Então, irás encontrar o que verdadeiramente queres para ti.