Então sentes que o amor te escapa por entre os dedos. Não te pertence. Deixas-te cair com o olhar turvo na continuidade da tua débil existência. Memórias guardadas numa redoma de vidros estilhaçados que espelham figuras uniformes, uma realidade singular do que nunca fora de facto real. Memórias, não. Fantasias. Sonhos longínquos.
Estendes os teus braços, mas não és capaz de os alcançar. Olhas em frente, mas desviam-te o olhar. E sentes-te uma espécie de fantasma.
E nas lágrimas tuas te perdes, sem fôlego nem direcção; esperando por algo novo.
Num movimento de mãos desajeitado limpas as lágrimas do teu rosto, desenhas um sorriso de plástico e vives mais um dia.
A solidão engole-te por inteiro e sentes-te incapaz de fugir.
Dá-me a tua mão, juntos caminharemos na penumbra do silêncio. Onde podemos verdadeiramente ser felizes.
Sim, não duvido que todos nós já passamos por algo idêntico. Essa ideia desvairada que há algo onde o algo não o há - um bocado como andar numa montanha onde se gira e gira e gira, e tudo se confunde, e tudo se baralha, e não há lado certo para se virar, para se fugir. Quando acontece, perde-se tanto o rumo que a situação até parece ridícula. Não o é. É bastante real, e desgastante. Já para não mencionar que há aquela ideia de que parte de nós nunca vai recuperar (e quem sabe, não recupera de todo). Há tantas formas de amar, e todas elas podem levar ao abismo de solidão que referes. E pior que tudo isso, é a facilidade com que se engana, a facilidade com que se mascara as lágrimas com um sorriso nada autêntico ("you're so funny man, you should be a comedian. Unfortunately I am, I just hide behind the tears of a clown"). Tudo o que escreveste aqui é pura realidade. Acontece. Muito mais do que as pessoas acham. E, "no fim do dia", é importante saber-se que não se é o único a passar por tudo isto. É importante saber-se que há quem tenha passado e sobrevivido. É uma ajuda única.
ResponderEliminarÉ negativo, sim, mas no fundo, só é uma prova de coragem, uma vontade implícita de se saltar fora dessa perspectiva, e acho que é das coisas mais bonitas que se pode fazer: pegar em algo mau, e torná-lo bom. És tolo se não acreditas em ti, e no teu talento para escrever. És ainda mais tolo se não te aplicares nesta parte tua "oculta". Quem sabe não vais ajudar muitas pessoas. Aprecia, é tudo o que te digo. (: