sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sequelas ao tentar ser-me

Talvez seja apenas eu o deslocado.
Caído em ruínas escondidas pela relva alta num sítio que apenas conhece o pôr-do-sol e nunca as estrelas.
Talvez um dia eu cresça longe do outono que é a minha presença, ensopada pelo granizo que corre o meu rosto.
Talvez uma noite deixe de escrever tantos talvezes.

Certezas, nenhuma tenho. Apenas rasgos nos bolsos que me arrefecem as mãos, por onde perco os trocos da minha alma, mas nunca a minha transigência.

Vejo que as ruínas são de facto minhas apenas. Não me sei ser. Não me sei querer bem. Apenas me colapso.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Na ilusão de sermo-nos

Nascemos fora do nosso tempo. Não concordarias?
Caídos em ruínas escondidas pela relva alta num sítio que apenas conhece o pôr-do-sol e nunca as estrelas.
Sinais de uma estação errada; minha.
Linhas imaginárias de uma outra via láctea; minha.

Mas vou a ver, as ruínas são minhas apenas. A minha arte de ser-nos colapsa-me, pois não nos pertencemos.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

A arte do não-amar

Crava os teus dentes no meu corpo, quantas vezes quiseres. Tenta seguir os meus passos, quantas vezes quiseres. Torna-te outrem, quantas vezes quiseres.
Mas não, não és tu que procuro.
Desenhas um esboço fantasioso dos limites da moldura que segura o meu corpo, como se a minha arte tua fosse. Jogas-nos como peças de xadrez, inscrevendo em sangue as tuas regras. Mas a arte não conhece regras, e a morte espreita aos pés da tua cama.

Por ser-se constante

Como posso eu não ser constante quando me agarras pelos cabelos?
Talvez seja constante, pois enterro os pés no meu próprio cimento.