Sinto um arrepio na espinha ao pisar o soalho podre desta casa. À minha frente, uma escadaria que leva ao segundo piso. À minha direita, um corredor que se estica até ao horizonte, privado de luz. À minha esquerda, outro corredor igual ao anterior. Dou um passo em frente. Ouve-se mais uma vez o soalho e outro arrepio e uma sensação de desconforto invadem-me.
"Calma." - penso.
Passo a passo, faço o meu caminho até ao primeiro corredor, o da direita, e fixo o meu olhar com o intuito de descobrir o que se encontra na outra ponta mas a escuridão bloqueia-me. Sinto a garganta seca. Recuo. Agora virado para o corredor esquerdo, decido subir as escadarias.
"Calma." - penso.
Piso o primeiro degrau. O barulho que emana da superfície poeirenta ecoa por toda a casa. Continuo. No topo, um único corredor mostra-me o caminho. No final, uma porta feita de madeira sem maçaneta está entreaberta.
Engolo em seco e dou mais um passo. No corredor um pequeno barulho indistinguível faz-se soar ao meu ouvido como uma maldição.
Avanço. Não espreito. Encosto a minha mão à porta. Era já antiga, a madeira tinha diversas falhas, estava húmida. Algumas partes estavam sujas com musgo devido à falta de limpeza. Sinto a minha mão a ficar mais fria.
Empurro-a, ligeiramente.
Dou comigo dentro de um quarto decorado apenas por uma cama cujos lençóis estão rasgados. Um espelho na parede, coberto de pó. Um roupeiro fechado que nem me atrevo a abrir. Um relógio antigo, de pêndulo dá as horas certas. Cortinas esbranquiçadas, sujas e rasgadas nas pontas esvoaçam ao sabor do vento que encontra o seu caminho no quarto através de uma única janela, responsável pela iluminação da divisão.
O vento abranda, restando apenas um desconfortável silêncio.
Toca o relógio, fazendo ouvir o pêndulo que baloiça de um lado para o outro, lentamente.
Neste momento, os únicos barulhos predominantes provêem do relógio, e de mim. A minha respiração, ofegante, ouve-se cada vez mais alto. O meu coração bate a mil. Pingos de suor correm-me o rosto.
Sopra o vento, fazendo a porta bater agressivamente.
Faço o meu caminho até as escadarias, completamente possuído pelo medo. Os degraus parecem-me mais assustadores do que anteriormente. Não consigo mover o meu corpo. Algo me chama à atenção, fazendo-me olhar para trás.
Dentro do quarto fechado, um corvo pousa no parapeito da janela.
Arrepiante!
ResponderEliminarQuando li isto tive uma sensação de medo na boca do estômago, a mesma sensação que me assombrou quando li ''A Cabana''. Tens imenso jeito, mas disso tu já sabes! :D